Reading time: 17 minutes
A Bíblia nos diz que Jesus é a Palavra e que “Tudo foi feito por meio dela e sem ela nada foi feito de tudo o que existe” (Jo. 1,3). A Jesus foi dada toda a autoridade acima do Céu e embaixo da terra:
Os onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinando-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo'” (Mt 28,16-20).
Jesus define, escolhe e movimenta tudo. Tudo está subjugado a Ele. Impossível explicar tamanho poder. Quando Jesus passou pelos homens do seu tempo e os chamou, dizendo “Vem e segue-me” (Mt. 19,21), uma estrondosa força os atraiam.
Quando Jesus agia, o Céu fazia perfeita comunhão com Ele. A autoridade dada a Jesus por toda a eternidade se manifestava em todas as Suas ações, numa comunhão perfeitíssima com o Pai, o Filho e o Espírito Santo agindo juntos. Jesus falava e a comunhão pelos séculos dos séculos, a comunhão com Deus, a comunhão com o Espírito Santo, acontecia.
Jesus pronunciou muitas palavras durante a sua vida pública. Todas foram palavras de cura e libertação. Jesus disse palavras diferentes aos doentes, aos pecadores, aos enfermos, aos paralíticos, mas era como se estivesse dizendo a todos uma só palavra: “Faça-se!”. Independente do que Jesus se propunha a fazer, tudo obedecia às Suas ordens. Era um “faça-se!” imperativo, pois era com autoridade de um Deus que Jesus falava.
A divindade de Jesus se revelava quando Ele agia, e o mistério se fazia presente. Os olhos podiam ver e os ouvidos ouvir, como muitos viram e ouviram, mas não entendiam. Era algo sobrenatural, extraordinário. O extraordinário sempre acompanhou Jesus. Mas o simples também O acompanhou em todos os momentos de Sua vida.
Quando, com autoridade, Jesus dizia aos doentes e moribundos enxerguem, andem, falem, vejam, a paz de um Deus penetrava em seus ouvidos e corações. A paz que emanava de Jesus era algo sensacional, um fenômeno incompreensível, indecifrável.
Como conter a força que saía de Jesus? Impossível!
Bernard Proux Júnior, um amigo, em seu livro que ainda está para ser finalizado, diz:
Jesus, o Verbo, e o Espírito Santo de Deus, já estavam na superfície da terra na criação. É como se Deus, na criação, em vez de ter dito, ‘que a luz seja!’, dissesse, ‘que Jesus seja!’. É como se dissesse: ‘Terra inteira, do abismo ao céu. Que Jesus, a Luz de toda a vida, comigo, e o meu Espírito, sejamos Senhor em tudo!’. Então Jesus veio a ser Senhor de tudo o que Deus criou (PROUX JÚNIOR. Obra não publicada).
A autoridade de Jesus não está subordinada ao tempo. A palavra de Jesus sobre nossos atos, mesmo cometidos há anos passados, tem o feito do hoje. É como se Jesus dissesse à situação que aconteceu há muitos anos: “Faça-se a minha vontade hoje”.
É grande o poder de Jesus mostrado nas escrituras. No ato da criação do mundo, como escreve Bernard: “É como se Deus na criação ao invés de ter dito, ‘que a luz seja!’, dissesse, ‘que Jesus seja!'”.
Toda criação está submetida ao senhorio de Jesus. Isso é uma verdade, inquestionável! Todas as coisas criadas, montanhas, águas, rios, terra, árvores, obedecem às ordens de Jesus. Tudo que existe está submetido à autoridade de Jesus. Fazer o Sol parar, precipitar uma montanha, interromper o curso de uma cachoeira é algo extremamente fácil para Jesus fazer. Jesus tem pleno poder sobre qualquer matéria e realidade.
Em Provérbios 8,22-31 se lê isto, narrado pela própria Sabedoria:
O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado. Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz; antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo. Quando ele preparava os céus, ali estava eu, quando traçou o horizonte na superfície do abismo, quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra, junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele, brincando sobre o globo da terra, achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens”.
No Novo Testamento Jesus é designado como a Sabedoria de Deus. Como a Sabedoria, Jesus participa da criação do mundo. Colossenses 1,15-17 diz:
Ele á imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a criação. Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem nele.
O mesmo Espírito Santo que nos é dado no batismo, que nos é doado em reuniões de espiritualidade (encontros, eventos, congressos etc.), que vem sobre nós quando O clamamos em quaisquer lugares, que nos move a falar em línguas estranhas (cf. 1Cor. 14,2) é o Espírito que com o Pai e o Filho criaram tudo que existe. Esse mesmo Espírito que age e agiu em perfeita comunhão com Jesus, em suas manifestações de curas e milagres, age em nós hoje.
Sentimos o Espírito Santo conduzindo-nos em momentos de batismos nos grupos de oração, numa oração a dois e em qualquer lugar em que O invoquemos, mas tentar falar e compreender como esse Espírito age em perfeita comunhão com Jesus está muito distante de nós. É um poder sem igual. Pronunciar o nome de Jesus é uma poderosa oração de cura e libertação…!
O inatingível, a luz, a paz, o amor, a justiça, o três vezes santo, o século dos séculos, a eternidade, o poder do Pai, o poder do Espírito Santo, o princípio e o fim, a criação do mundo, a condenação do mal, e a destruição da maldade, o aprisionamento do mal, o precipitar dos infernos, a vida, a água, o sopro, Adão, a ressurreição dos mortos… Tudo isso acontece quando Jesus, o Filho de Deus, age. É como se todas essas coisas, santas e puras, acontecessem ao mesmo tempo quando Jesus pronuncia algo e faz alguma coisa. Tudo isso é mistério de Deus, um mistério dEle, um mistério da Bondade absoluta.
Quando pronunciamos o nome de Jesus e quando Jesus age, é como se Deus dissesse do céu: “Eu desejo. Eu quero. Faça-se junto com meu Filho”. É algo totalmente místico… De Deus nada pode ser tirado e não há nada a acrescentar.
A autoria de Jesus nos é mostrada nas seguintes passagens bíblicas: “Não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” (Jo. 12,47), “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós” (Jo. 17,21). Essa é a autoridade de Jesus. Uma autoridade tal que perscruta e, afiadamente, penetra os corações.
Jesus tem a chave da vida em suas mãos, e está chamando a cada um de nós, pai, mãe, filhos, nações e povos a nos unirmos a Ele numa comunhão de vida com Deus na eternidade.
Jesus também tem a chave da condenação em suas mãos. Jesus Cristo foi bem claro quando disse: “Quem me despreza e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a palavra que anunciei julgá-lo-á no último dia” (Jo. 12,48). Autoridade maior que essa não há, e nunca haverá! Mas Deus nos revelou o seu Filho de forma humana, de um nascimento normal. Jesus veio ao mundo em forma de criança e cresceu. Jesus era Homem, mas um Deus-Homem, Deus que se revelou a nós.
As dores que Jesus sentiu quando foi agredido são uma prova física e visível de que Ele era, também homem. Divino, sim, mas, também, humano. Ao ser esbofeteado, nenhuma força cósmica do universo dissipou a dor que Jesus sentiu naquele momento. Jesus veio para nos amar, e nos amou, veio para morrer, e morreu; Ele sentiu dor e tudo que um homem normal sentiria. Foi dor e amor, mas foi dor, e muita dor…
Jesus provocou uma revolução jamais vista na história da humanidade; uma revolução de comportamento, no modo de viver, no modo de pensar…
É realmente muito triste dizer que um Deus se permitiu nascer, crescer e, ao fim, morrer. Essa foi a trajetória de Deus na terra. A história é terrivelmente triste por saber que um Deus, que é amor, e sem nenhuma culpa de nossos pecados, se fez passar por culpado, miserável, louco, indigente, agitador. Mas essa é a história que Deus quis escrever. A história da Glória de Deus, do seu Filho Jesus e de nossa redenção.
Silêncio que arrebata
Autoridade sem igual havia no silenciar de Jesus. Era um silêncio ungido. Silêncio de um Deus. No silenciar de Jesus acontecia a plenificação da vontade de Deus.
No silêncio de Jesus, dava-se a manifestação plena da Sua autoridade. Em tudo e sobre tudo, Jesus tinha autoridade. Uma das manifestações da autoridade de Jesus – e que é uma das mais lembradas por todos nós – está na multiplicação dos “cinco pães e dois peixinhos” (Jo 6,9). Ali, Jesus manifestou Sua autoridade sobre a matéria. Ao andar sobre as águas, ao acalmar a tempestade – estando num barco junto com os discípulos –, Jesus impôs Sua autoridade sobre as coisas criadas. Terra, céus, mares e tudo que existe curvam-se à voz poderosa de Jesus. O universo rende-se à presença e à voz poderosa do Filho do Homem.
Precipitação
Há uma característica na autoridade de Jesus: a precipitação, isto é, o descer, o rebaixar, o dissolver, e, muito forte, o humilhar. Não existem barreiras físicas e espirituais para Jesus. Jesus olhou com olhar de amor e compaixão para todos. Ele veio para estar com os doentes do físico e da alma. Jesus veio para olhar – e muito Ele olhou! – o pobre, o enfermo, o moribundo, o coxo, o aleijado, o cego… A presença de Jesus induzia tudo que ele desejasse: a precipitação. Era uma precipitação instantânea, imediata, como nos mostra as passagens bíblicas. Ao dizer “Faça-se”, “Cura-se”, “Ande”, “Caminhe”, Jesus imediatamente precipitava (apagava, retirava) tal enfermidade e tal doença espiritual. Mas o precipitar que estou usando não é sinônimo de apagar ou retirar: tem um sentido de subjugar, pois Jesus, com seu poder e glória, a tudo subjuga, porque todas as coisas estão sob o “escabelo de teus pés” (Sl 110,1).
Jesus, com seu poder e autoridade, poderia, se desejasse, precipitar a autoridade daqueles homens da lei, os fariseus, que quiseram fazê-Lo cair em contradição para, então, ter motivos palpáveis de condená-Lo. Mas Jesus não precipitou a autoridade deles naquele momento. Vez após vez, Jesus deixava-se ser caluniado, difamado, mas tudo no momento desejado e já previsto por Ele. De igual forma, no instante desejado e já previsto, Jesus respondeu às acusações com palavras de verdade.
Jesus deixou-se ser humilhado, ninguém teria esse poder se Ele não o permitisse: “Tu não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto” (Jo. 19,11). Jesus deixou-se ser caluniado. Da cruz que colocaram sobre Seus ombros para que Ele a carregasse até o Gólgota, Jesus disse: “sim, eu permito que vocês romanos façam isso”; caso contrário ninguém, teria poder para obrigá-Lo a carregá-la.
Se Jesus não der a cada um livre acesso para realizar algo em Seu favor, nunca conseguiremos realizá-lo: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair” (Jo 6,44).
As crueldades que fizeram com Jesus são maiores do que a narrativa bíblica nos conta. Mas as atrocidades pela qual o Filho de Deus passou foram a gota permitida por Deus, nada mais aconteceria com Jesus.
Plenificação da vontade de Deus
O silêncio de Jesus diante dos doutores da lei era a plenificação da vontade do Pai. Tal silêncio era como se uma incrível força cósmica, a potência de todo o universo, isto é, o Espírito Santo, agisse com Jesus no instante em que Ele fazia silêncio. Todo o cosmouniverso é criação de Deus em Jesus. Era um silêncio de um Deus. Um silêncio com a força de um Deus. Silêncio que arrebata e dissolve. Um silêncio que cria, recria e também destrói.
O silêncio de Jesus era a força de Deus em ação. Um silêncio sobrenatural, cósmico…
Toda autoridade saiu dos olhos de Jesus, das Suas mãos, do Seu corpo quando Ele olhou atentamente tamanha falta de fé em Deus dos fariseus. No entanto, Jesus não precipitou o ego, o orgulho, a vaidade, o egocentrismo, a estupidez daqueles homens da lei, mas permitiu que eles assim se manifestassem. O olhar com que Jesus olhava a todos que não O compreendiam não era um olhar de um Deus que tudo podia precipitar, mas um olhar que pode ser expresso na seguinte passagem: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Um dos momentos mais difíceis por que Jesus passou foi quando O levaram à casa de Caifás (cf. Mt. 26,57-68), para ser julgado. Lá, já com sinais de surramento e maus-tratos, Jesus se colocou colossalmente diante de todos que estavam para julgá-lo. “Nada respondes? Que testemunham estes contra ti?” (Mt 26,62b) disse o Sumo Sacerdote “Jesus, porém, ficou calado” (Mt 26,63). “Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 26,63c), “Jesus respondeu: Tu o dizes” (Mt 26,64). Ao final da passagem de Mateus 26,57-68 se lê: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?'” (Mt 26, 67-68).
Outro momento muito forte do silêncio de Jesus foi quando Ele esteve diante de Pilatos pela primeira vez e fez silêncio em relação às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos. Jesus nada respondia a esses. Era o silêncio de um Deus. Ao ser acusado pelos chefes dos sacerdotes, Jesus “nada respondia as acusações” (Mt 27,22), permanecia calado. Então lhe perguntou Pilatos: “Não ouves da quanta coisa te acusam?” (Mt 27,13), “Mas ele não lhe respondeu sequer uma palavra, de tal sorte que o governador ficou muito impressionado” (Mt 27,14). O silêncio de Jesus causava comoção. É o silenciar de um Deus que tem absoluta autoridade sobre todas as coisas, de um Deus que tem autoridade sobre a nossa alma, de um Deus que tem autoridade de nos dar a vida e também de nos julgar. Era a autoridade de um Rei eterno. Um Rei que descerá em Glória no fim dos tempos… Um Rei que tudo governa…
Diante de Herodes,”Jesus nada lhe respondeu” (Luc. 23,9). Em Lucas 23,10 se lê que os príncipes dos sacerdotes e escribas acusavam-No com violência. Jesus fez silêncio: silêncio de um Deus. Quão profundo deveria ter sido aquele momento: Jesus diante dos príncipes dos sacerdotes no Sinédrio, após ter dito algumas palavras, em seguida fez silêncio: o silêncio de um Deus. As forças dos céus estavam com Jesus naquele momento. As forças do universo estavam com Jesus. Depois do silêncio de Jesus, acredito que muitos daqueles que O acompanhavam se converteram e mudaram de lado e se juntaram àqueles que O seguiam, junto a Sua mãe aos apóstolos. É o silêncio de um Deus que arrebata os corações.
São Paulo diz que “onde abundou o pecado, superabundou à graça” (Rm 5,20). Esta é a lei de Deus: onde há pecado, ali Deus se coloca para dar a vida; onde há morte, Deus se faz presente para dar a vida; onde há prisão, Deus ali está para devolver a liberdade. Deus sempre está conosco nos momentos mais terríveis e difíceis. Deus não arreda o pé de nós por nada. É em nossa miséria d’alma, em meio a nossos clamores, que Deus se faz presente. Deus nos ama e a todo instante está nos mostrando as portas que devemos seguir. Não vêm prontinho, mas são pistas que devemos juntar, como se fôssemos montando um quebra cabeça. Deus dá, sim, as pistas, aponta o caminho, a nós cabe-nos juntar as peças e, com discernimento, segui-las.
Com Jesus diante dos sacerdotes e escribas, superabundaram os maus-tratos, dores, provocações, acusações, mas foi ali que Deus se fez presente no coração de Jesus, consolando-O, amando-O, instruindo-O. Acaso ali não aconteceu a manifestação da vontade de Deus e da autoridade de Jesus? Sim! De fato, a autoridade de Deus e de Jesus realizou-se por meio do silêncio de Jesus diante daqueles que O caluniavam no Sinédrio. O silenciar de Jesus é um dos momentos da total manifestação de Sua autoridade. Jesus silenciou em inúmeras ocasiões, e manifestou a autoridade de Deus em inúmeras situações.
Há poder, cura e libertação no silêncio de Cristo, pois no Seu silenciar acontece a plena manifestação da vontade de Deus. Jesus possui plena autoridade, pleno poder sobre nós – se assim o deixarmos. Ao ser agredido pelo Sumo Sacerdote e pelos anciãos do povo naquele momento, Jesus poderia ter lhes parado os pensamentos, os sentidos, o sistema nervoso e ter levado-os ao chão. Um Deus pode fazer tudo isso. Mas a Jesus importou o silêncio. Sua pedagogia era outra: a pedagogia do amor. Autoridade e amor estão um para o outro como Deus, seu Filho, Jesus, e o Espírito Santo estão Um para o Outro e Um no Outro.
THIAGO ZANETTI