Buscando um emprego aos olhos da fé

Buscando um emprego aos olhos da fé

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Por meio do trabalho, o homem garante a sua sobrevivência. Em Gênesis diz que, com o suor do seu trabalho, o homem deverá se alimentar (cf. Gn 3,19). Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o trabalho não se configura numa penalidade, mas é a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível (cf. 378). O Catecismo declara que o trabalho se constitui como remédio que atenua os prejuízos do pecado (cf. 1609). Na segunda Carta de S. Paulo aos Tessalonicenses está escrito: “O trabalho é pois um dever: ‘Quem não quer trabalhar também não há de comer’ (2Ts 3,10). O CIC diz: “O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Também pode ser redentor (n. 2427).

E quando o trabalho nos falta? Sobre isso, que quero chamar a atenção. Diz o Catecismo: “A privação do trabalho por causa do desemprego é quase sempre, para quem a sofre, um atentado à dignidade e uma ameaça ao equilíbrio da vida. Além do prejuízo pessoal para o desempregado, corre também inúmeros riscos o seu lar” (n. 2436).

Já “senti na pele”, inúmeras vezes, os abalos psicológicos e o desequilíbrio emocional que a falta de um emprego pode provocar. Em meio a provações, desgastes e sofrimentos, eu disse para Deus: “Senhor, já não tenho mais forças. Agora é a Sua vez de agir em minha vida!” Confiante, esperei no Senhor.

O Catecismo ensina que a comunidade política tem o dever de garantir o trabalho as pessoas (n. 2211).

O mercado é imprevisível. Não há um critério certo para uma demissão acontecer. Possa ser que ela ocorra porque alguém da chefia “não foi com a sua cara”, por causa de outrem que inveje você no cargo em que ocupa, ou porque alguém o(a) retirou da função que exercia, para dar o lugar a um(a) amigo(a), ou parente(a), ou porque, de fato, você não correspondeu com as expectativas.

Para bem vivermos, precisamos estar bem em nossa vida de oração, na família, na vida sentimental, afetiva e, também, profissional. Sabemos que estar bem em tudo, “estar 100%” em todas as áreas é difícil; não somos “super-heróis”. Somos humanos e estamos em busca do equilíbrio. Tudo bem, se não dá para “ser 100%”, ao menos devemos viver com o mínimo que possa nos equilibrar. Na Bíblia, Deus não nos prometeu o necessário, então, podemos fazer uma leitura de que não vai faltar nem sobrar. É certo também que, na Bíblia, o Nosso Pai, Deus, também nos promete uma medida transbordante e cheia: “Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois à medida que usardes para os outros, servirá também para vós” (Lc 6,38).

O mercado de trabalho é cruel, sabemos. Ele tem suas “razões” próprias; ou melhor, de razão, não tem nada, pois a força (o mais forte quase sempre ganha) e a subjetividade prevalece. Para o mercado, não vale muito o que somos enquanto pessoas, dotadas de capacidades, enquanto seres humanos, mas o que somos capazes de produzir, de resolver problemas; fato.

Mas qual a lição que tiramos disso tudo ao se ficar sem emprego? Vou enumerar algumas que podemos tomar para nossa vida em particular e profissional:

– Em primeiro lugar, não se desespere. Não se sinta o pior ser humano da face da terra, o incapaz. Saiba que, se uma porta se fecha, dez outras se abrirão, em nome de Jesus. Confie no seu potencial. Silencie nos braços de Deus, descanse nos braços dEle.

– Verifique se não é você que está errando e falhando diante dos seus empregadores e diante de Deus. Se você está andando na vontade de Deus e, mesmo assim, foi demitido, não questione a Deus. Duas coisas podem ter acontecido: a) você foi mandado embora injustamente e Deus permitiu que acontecesse, e isso se configura num mistério. Se Deus permitiu, é um mistério dEle, não devemos questionar, mas confiar que Ele não perdeu a condução da história, mas que encaminha você para algo melhor e promissor; b) aquele não era seu lugar e Deus não o(a) quis lá. Mas é muito difícil pensar assim. Talvez, simplesmente, foi um fato ordinário que Deus deixou que acontecesse e não que Deus tenha provocado. Devemos ter a certeza de que “todas as coisa concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28).

– Faça o seu melhor. Dê o seu melhor no emprego que você estiver. Se o seu empregador não reconheceu tudo o que você fez e, por algum motivo, o(a) mandou embora, saiba que Deus reconheceu tudo o que você fez e seu esforço não terá sido em vão.

– Faça a sua parte. Se capacite, estude, faça cursos de capacitação etc. Faça sua parte em se capacitar, quanto mais melhor!

– O mercado tem uma lógica insana, desleal, incerta, maliciosa, desumana. Você pode ser o(a) melhor funcionário(a) do mundo, o(a) mais santo(a), o(a) mais eficiente, o(a) mais honesto e, mesmo assim, de uma hora para outra, ser demitido(a). O que eu quero dizer é: faça o seu melhor, que Deus fará o melhor dEle em sua vida.

Você já parou para avaliar se esta aparente demora de Deus não está sendo o tempo de que Ele precisa para te dar uma “medida boa, socada, sacudida e transbordante” (Lc 6,38)? E o que significar essa passagem? Que Deus nos dá para além do que pedimos, para além das nossas expectativas. Ou Deus não é um Pai de amor, de bondade, de generosidade? Sim. Confie, espere!

Será que o que Deus tem reservado para você, você hoje se encontra em condições de receber? Avalie sinceramente isso! Para citar meu exemplo: Deus precisou me preparar, tirar muitas arestas da minha vida para derramar sobre mim as suas graças. Se o seu vaso está cheio de suas certezas, primeiro, esvazie-o, para que somente Deus possa enchê-lo. Deus não derrama sua graça em vasos cheios de nós mesmos, de nossas preocupações. Abandone a sua vida em Jesus Cristo.

Hoje, posso dizer a você que estou mais confiante. Sei das minhas capacidades e potencialidades; você também sabe das suas.

Hoje, eu sei que, para que eu tenha um bom emprego, um bom salário (um salário necessário), bens, enfim, o que quer que seja, dependerá do tempo da graça de Deus. Diga isso para a sua vida também. Absolutamente, tudo está no controle de Deus. Evidentemente, que Ele usará das circunstancias ordinárias, do nosso esforço, da nossa luta, do nosso trabalho, dos nossos estudos, das nossas orações, enfim, para que as graças aconteçam em nossas vidas. Jesus, quando ressuscitou Lázaro, disse “Tirai a pedra!” (Jo 11,39); ou seja, a graça supõe a natureza, como diz S. Tomás de Aquino, quer dizer: o esforço é nosso (trabalho, luta, procurar por um emprego, se qualificar, fazer entrevistas, enviar currículos, contatar networking etc.) e a graça é de Deus.

Recentemente, eu tive um despertar para a devoção ao glorioso São José, pai adotivo de Jesus. São José é também padroeiro dos trabalhadores. Rogue a São José para que você tenha – o mais rápido! – o seu emprego; confie em sua intercessão junto a Deus, pois ele contempla a glória de Deus; abaixo de Nossa Senhora está São José.

Saiba que Deus tem um lugar especial para você. Ele tem um trabalho especial para você, para que você, dignamente, se sustente e sustente a sua família. Espera no Senhor e Ele tudo fará!

Reze, trabalhe, confie, espere!

THIAGO ZANETTI