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Do Senhor, a graça santificante e operante; de nós, corações abertos
O que é preciso para servir a Deus? Basicamente, duas coisas: a primeira é querer – precisamos querer servir-Lo em espírito e em verdade. Jesus disse: “Estes são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (Jo 4,23b-24); a segunda depende do próprio Deus, que nos concede a graça para trabalharmos a Seu favor.
Só agir não basta – é preciso, sim, agir, ter iniciativa –, mas, antes de nossas ações, é Deus Quem nos concede toda a autoridade. Jesus nos mostrou isso depois que Pilatos o interrogou: “‘Não sabes que tenho poder para te soltar e poder para te crucificar ?’, Jesus então respondeu: ‘Tu não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto'” (Jo 19,10-11a). Note-se: “se não te fosse dado do alto”. Portanto, absolutamente nada podemos fazer para o Reino de Deus, se não nos for dada de antemão a autoridade do Alto, para que possamos agir em seu Santo e Digníssimo Nome. As palavras do salmista nos mostra isto: “Se o Senhor não construir a casa, é inútil o cansaço dos pedreiros. Se não é o Senhor que guarda a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 127,1-2).
Existe outra questão (que é um verdadeiro mistério de Deus): a de que Deus, por Sua escolha, seleciona, convoca antes mesmo do nascimento, aqueles e aquelas que o servirão. Isso é um grande mistério de Deus. Ele, que está fora dos limites do tempo, já consagra aqueles que irão (é claro, depende também de aceitarmos ou não) Lhe servir.
A palavra de Jeremias o mostra: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1,5).
S. Paulo quando fala sobre o seu ministério de pregação do Evangelho, discorre sobre esse chamado de Deus quando ainda estamos sendo formados: “Deus, porém, tinha me posto à parte desde o ventre materno. Quando, então, ele me chamou por sua graça e se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu anunciasse aos pagãos, não consultei carne e sangue…” (Gl 1,15-16).
Jesus Cristo, orando ao Pai, diz: “Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17,9).
Deus é que toma a iniciativa (e isso é um grande mistério) de nos escolher antes mesmo de nossa existência.
O Pai, com todo Seu amor e glória, amor insondável, amor misterioso – pois não somos capazes de entender, apenas sentir e nos deixar levar por esse amor, amor sem igual – é Quem tudo suscita e prediz: “Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem-estar e crio a desgraça: sim eu Iahweh, faço tudo isso” (Is 45,7).
O poder, a glória e o esplendor do Deus Todo-Poderoso é mostrado na seguinte passagem, onde o próprio Deus fala de Si: “Realizaram-se os primeiros acontecimentos anunciados, eu predigo outros; antes que aconteçam, eu vo-los faço conhecer” (Is 42,9).
“Porque são teus”, diz Jesus Cristo em João 17,9. Somos de Deus, escolhidos dEle; você é um(a) eleito(a) e consagrado(a) de Deus: “ele que desde o útero me vem formando para que eu seja seu servo” (Is 49.5).
E o Senhor quer algo ainda maior para nós: “É bem pouco seres o meu servo só para restaurar as tribos de Jacó, só para trazer de volta os israelitas que escaparam, quero fazer de ti uma luz para as nações, para que a minha salvação chegue até os confins do mundo” (Is, 49,6). Encare, porque força e graça não lhe faltarão. Essa é a promessa do Senhor para você!
E o que Deus quer de nossas ações evangelizadoras? Que sejam repletas dEle! Se a pregação que fizermos, a Palavra que anunciarmos, a música que tocarmos, o texto que escrevermos, a ação que praticarmos, enfim, não carregarem consigo o Cristo, vãs serão nossas palavras, textos, cantos e ações… Sem Cristo tudo se torna nulo, inútil!
Quando pregamos e agimos, não falamos de Jesus, mas levamos Jesus por meio de nossas palavras e ações, pois é Ele, o Senhor de Toda Glória, que cura, liberta, restaura, salva.
Nossas ações (e Deus assim as quer) precisam ser repletas de graça, unção, libertação, ciência, profecia, autoridade, Senhorio de Jesus, verdade, sinceridade, humildade, querigma (este último significa o primeiro anúncio do evangelho; pode ser considerado uma pregação missionária para suscitar a fé; e passa por seis etapas: amor de Deus, consciência do pecado, salvação, fé e conversão, Espírito Santo e comunidade).
Amor, em primeiro lugar, unção, graça e poder são os elementos, entre outros, que o Senhor quer que carreguemos em nossos corações, para podermos eficazmente libertar os seus filhos do mundo das trevas, da escuridão, das mãos de satanás, do mundo das drogas, do vício, da prostituição, do alcoolismo, da pornografia, de devassidão, do mundo que oprime e mata, tanto física e, sobretudo, espiritualmente.
O Senhor precisa de filhos santos, como disse Jesus: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). O verbo ser está no imperativo, portanto, Jesus não está apenas fazendo um convite; Ele, com a autoridade de um Deus, também ordena que sejamos santos!
Enquanto o mundo (mundo como um sistema de coisas más e orquestradas pelo inimigo de Deus) prega a desordem, a morte, a vingança, a destruição e a perda das almas, os filhos de Luz precisam avançar na contramão, munidos do poder do Alto, armados para lutar contra o mal, como se lê em Efésios:
Enfim, fortalecei-vos no Senhor, no poder de sua força; revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do diabo. Pois a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço. Por isso, protegei-vos com a armadura de Deus, a fim de que possais resistir no dia mau, e assim, empregando todos os meios, continueis firmes. Ficai, pois de prontidão, tendo a verdade como cinturão, a justiça como couraça e os pés calçados com o zelo em anunciar a Boa-Nova da paz. Em todas as circunstâncias, empunhai o escudo da fé, com a qual podereis apagar todas as flechas incendiadas do Maligno. Enfim, ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito Santo, que é a palavra de Deus (Ef, 6,10-17).
Jesus fala desse mundo na oração, na hora da glória, dirigido ao Pai: “Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como eu não sou do mundo” (Jo 17, 14). E nos versículos seguintes, Jesus diz: “Eu não rogo que os tireis do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo'” (Jo 17,15-16).
Servir a Deus é colocar-se como mais um soldado que, apoiado na Luz que é Cristo, luta contra as trevas, a ruína, a maldade e a destruição dos filhos e das filhas de Deus.
Servir é se colocar nos braços de Jesus e deixar que Ele, como um general, conduza a batalha.
Servir é ser inteiramente de Deus; é deixar-se remodelar como um barro nas mãos do Oleiro; diz o Senhor: “Ai daquele que questiona quem o modelou, ele que é barro, barro do chão! Acaso o pote vai dizer ao oleiro: ‘Que estás fazendo?’ ou ‘Tua obra não tem asas!'” (Is 45,9); e ainda: “Acaso estais pedindo satisfação a respeito de meus filhos; ou me quereis dar ordens a respeito do que é obra minha?'” (Is 45,11).
Servir em espírito e em verdade é entregar-se a Deus como o fez Paulo, quando, vivendo numa transcendental intimidade com o Senhor, declara: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20a).
Servir é cumprir (embora difícil e árduo) as palavras pontiagudas que rasgam a alma ditas por Jesus:
Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem busca sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará (Mt 10,37-39).
Essas palavras de Jesus, como todas palavras Suas, nos rasgam o coração, nos pegam no contrapé, pois resumem (no meu entender) todo o sentido de ser da cristandade. Se Jesus quis nos abalar, Ele o conseguiu. Essas Suas palavras nos atravessam a alma como uma lança pontiaguda e, ao mesmo tempo em que nos rasga por dentro, como uma brisa leve e suave Ele nos pergunta: “Seguir-me-á ou me abandonarás?”; é a voz de Deus ecoando dentro de nós, chamando-nos ao serviço, à luta, à batalha, ao enfrentamento da maldade. Enquanto não atendemos esse chamado, viveremos com o “coração irrequieto”, como disse Santo Agostinho.
A coisa é ou não é. Ou você está com Jesus ou não está; Jesus mesmo disse: “Quem não está comigo, é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha” (Mt 12,30).
Deus o quer para o serviço. Será Ele mesmo que irá a nossa frente. Eis o que disse, no passado, o Senhor a Ciro, o Seu ungido – o que pode se direcionar, no contexto atual, a você:
Irei eu caminhando à tua frente, montanhas aplanarei, arrombarei portões de bronze e arrebentarei trancas de ferro. Entrego-te até os mais secretos depósitos, e os tesouros subterrâneos. Tudo, para que fiques sabendo que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chamo pelo nome (Is 45,2-3).
Confie nas promessas de Deus para você. Deus é fiel! Ele cumpre todas as Suas promessas!
Do seu irmão,
THIAGO ZANETTI