Seu amor pode estar na rede

Seu amor pode estar na rede

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Ah, o amor… Não importa muito por qual meio ele venha: numa incursão na pedra, se por uma fita VHS, cassete, num papel amassado, numa imagem estática, numa fotografia, pela TV, num telefonema, Blu-ray, SMS, WhatsApp, Facebook, Twitter, Instagram, Tinder, Happn etc., ou em qualquer lugar pelo ciberespaço… O importante é que ele chegue, que ele apareça, não importa por qual meio. O amor (da pessoa esperada) pode aparecer offline; é possível esbarrar-se nele por aí, no ciclo das amizades (off), no trabalho ou em ambientes de convívio (off); ou, por vezes, pode ocorrer no modo on, na rede.

Acontece que – pelo menos no Brasil – há muito preconceito quando se trata de se conhecer alguém – que se possa tornar um(a) futuro(a) esposo(a) – pela internet.

Tenho plena consciência de que o simples fato de eu escrever este artigo sobre esse tema gera, inevitavelmente, um “mundaréu de gente” que se “insurge” contra a ideia. Vêm comentários de todos os tipos: “encalhados”, “vão arrumar alguma coisa pra fazer”, “iludidos”, “doidos”, “fora da realidade” etc.

A nossa reflexão aqui não é para incentivar o uso das redes para enamorar as pessoas nem desestimular o uso dessas redes para tais fins, mas tão somente constatar que o fenômeno ocorre de forma corriqueira em todo o mundo.

Pessoas católicas, por exemplo, estão enamorando-se pelas redes e demonstrando que a possibilidade do encontro extrapolou as paredes da igreja, dos Grupos de Oração, da casa, do trabalho, de um território delimitado; e elas estão valendo-se do ciberespaço, das redes intermináveis, rizomáticas, para aproximarem seus corações e juntarem os “Tobias” e as “Saras”, ou os “Josés” e as “Marias”.

E é sempre bom lembrar que não há uma oposição entre o que se faz no virtual e o que se faz no espaço offline. Para alguns, chega a ser uma “heresia” dizer que a ‘nova ambiência’, o estar online, por exemplo, nas redes sociais, é uma nova forma de ser Igreja. O fiel continua o mesmo nas redes. Uma pessoa católica continua sendo católica na rede, mas de uma forma nova, “midiatizada”, ou seja, não destoante do modo de se fazer fiel numa catedral, no Grupo de Oração ou na capela.

A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado, por sua vez, de virtus, força, potência. Segundo Pierre Levy, um estudioso das redes, o virtual não se opõe ao real, mas, sim, ao atual. A “virtualização” não é sinônimo de “desrealização” (a transformação da realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade. Por exemplo, o que está na tela do computador, do notebook, do Smartphone, do iPhone, do iPad etc. não é o irreal, mas o real transformado.

A realidade tem demonstrado que a pessoa que Deus tem reservado para outra pode estar à distância de um só clique, separada por uma tela de computador ou dispositivo móvel.

Com o advento da internet, foi possível encurtar distâncias, transpor barreiras territoriais, locais, nacionais e transnacionais. Com um só clique e com o auxílio de um dispositivo de comunicação, como o WhatsApp, o Facebook, o Twitter, sites de relacionamento, aplicativos diversos (Tinder, Happn entre outros), chats, enfim, é possível conectar-se com o mundo e conhecer pessoas dos mais diferentes lugares.

A busca, no entanto, pelo(a) parceiro(a) “ideal”, aquela pessoa com quem se tem afinidades e com quem se deseja dividir a vida e chegar ao ápice da relação, o matrimônio, independe do meio, como dito no início deste artigo. Basta que as duas pessoas se encontrem em algum momento, seja numa roda de amigos, no trabalho, na faculdade, na Igreja, na academia, numa festa, ou por detrás de um computador.

No senso comum, a internet é erroneamente e pejorativamente vista como um ambiente frequentado por pessoas “encalhadas”, que sofrem de solidão e que não conseguem nada no “mano a mano”. Mas não é bem assim.

A internet possibilita conhecer pessoas, estabelecer contatos iniciais, contatos profissionais etc. Embora a internet seja vista, muitas vezes, como um “pandemônio”, no que concerne às relações afetivas, pelo fato de pessoas mal intencionadas fazerem mau uso dela, encontrar uma “pessoa certa” na rede, no Facebook, em sites de namoro católico, entre outros, é possível.

Certo é que se pode comparar essa ação àquela de se “encontrar uma agulha no palheiro”, mas é necessário acreditar que pessoas boas também passam por lá (e que pessoas interesseiras, tresloucadas, também).

É fato que pessoas “pervertidas” e “pervertedoras” navegam na rede, mas, também, há “pessoas do bem”, que buscam um namoro santo, que procuram ser servas de Deus e estão por ali, caminhando, navegando, dando seu testemunho no ambiente virtual.

Após o primeiro contato virtual, inicia-se uma conversa e pode-se esquadrinhar mais sobre a vida da pessoa, e verificar se “as ideias batem”, se há afinidades. Mas é importante dizer que o virtual pode esconder nuances que só o “olho no olho” é capaz de revelar. Não me refiro nem tanto à analogia dos atributos físicos (esses sim, também são importantes, pois gostamos do todo, e a pessoa é o todo, mente, alma e corpo), mas ao conjunto.

Aludo, sim, ao fato de as pessoas se entreolharem, conversarem. E, num dado momento, em seu íntimo, cada uma delas poderá dizer sobre a outra: “puxa, essa pessoa é bacana, despertou-me algo, quero conhecê-la melhor”.

É até difícil dizer como isso acontece. Como explicar aquela “coisa” que se sente pela pessoa, aquele “tcham”, aquele “clique”, aquele “estalo”? Mas é simples: a pessoa desperta na outra algo, e isso é tão profundo, único, íntimo, que não se sabe explicar muito bem o que seja, embora quase todos já se tenham sentido assim.

Numa realidade de mundo onde homem e mulher, na busca de reconhecimento e valorização de outrem, se “digladiam”; num mundo onde se está perdendo a esperança de se encontrar um amor sincero e verdadeiro; numa realidade na qual homem e mulher, não raras vezes, buscam satisfazer o seu próprio “eu”, seus desejos mais imediatos, onde as relações não são pautadas na cumplicidade e no companheirismo, mas são construídas a partir de situações voláteis, há muito que se refletir. Num mundo ditado pela cultura do “se não der certo, o casal (casados) se separa”, no qual as relações são marcadas pela intolerância, em que as mulheres já não querem “um amor de verdade”, mas um homem que lhes dê segurança (leia-se: dinheiro e conforto!), há muito que se rever. [E há até homens que buscam o mesmo na relação com mulheres mais bem-sucedidas do que eles]. Há, ainda, muitos homens, por sua vez, que veem as mulheres como “objetos de desejo” e, depois de certo tempo de relacionamento, as “dispensam de suas vidas”. É comum ver pessoas (de ambos os sexos) que, antes de uma balada, optam por “combinar encontros casuais” nos quais “chegam até os últimos limites” (leia-se sexo casual), o que, na maioria dos casos, gera arrependimento, ainda que tardio, sem falar nas consequências de tais atos (gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis etc.).

Mediante a existência de tantos relacionamentos transitórios, vazios, insensíveis, insólitos e egoístas, será possível, mesmo num ambiente virtual, marcado pela distância, encontrar um homem, uma mulher de Deus? Mesmo num ambiente cheio de pessoas buscando sexo ao preço de qualquer circunstância, num ambiente repleto de pessoas cuja carência afetiva e emocional as façam desejar ouvir um “eu te amo”, ainda que dito “mecanicamente”, sem desejo, será possível encontrar um “amor de verdade”? Para uma vida feliz a dois? Penso, sinceramente, que sim…

Pessoas que compartilham o desejo sincero de se conhecer e de “estreitar a relação”, começando numa amizade com vistas a um namoro, podem estar na virtualidade, em algum IP da rede, como também podem estar “presentificadas” em algum outro lugar. As “facilidades” do mundo virtual nem sempre são o único, ou o melhor caminho, mas podem vir a ser. E, como é do senso comum, “cada caso é um caso”, não há como “generalizar”, mas não há motivo para se descartar esta possibilidade: o espaço virtual é, de fato, uma janela para o mundo!

Acredito que o problema não está no meio, na ferramenta, na internet, mas nas escolhas que fazemos acerca das pessoas com as quais nos envolvemos. Afinal, a “culpa” do insucesso numa relação a dois não é do ambiente no qual as pessoas se conheceram, mas do “percurso” que percorreram, em cumplicidade ou não.

Em suma, alguém reservado para você está por aí – no on ou no off. Alguém que Deus tem para você, para que você seja feliz e constitua uma linda família para Ele, está em algum lugar, on ou off, basta que você o(a) encontre.

Peça a Deus a pessoa que você tanto deseja. Seja sincero(a) e objetivo(a) com Ele. Peça que seja um homem, uma mulher de fé, de oração. Tenha a certeza de que Deus pode atender a seu pedido, para que você seja feliz e constitua uma linda família para a honra e glória de Nosso Senhor.

Uma última coisa: você está pedindo um(a) namorado(a) a Deus, mas está preparado(a) para receber isso dEle?

Do seu irmão,
THIAGO ZANETTI