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O amor é capaz de perdoar tudo, qualquer tipo de falha, quaisquer tipos de erros? Existe algum limite para o perdão? Há o ‘impossível’ que o amor humano não seja capaz de perdoar?
Por amor, você seria capaz de perdoar a traição de um namorado, esposo ou noivo? Pelo amor – por um projeto maior no futuro –, você seria capaz de, depois de traída(o), reatar com essa pessoa e lhe dar uma segunda chance?
Dizer ‘eu o perdoo, mas não quero vê-lo nunca mais na minha vida’ não seria um perdão em sua plenitude. O perdão pressupõe reconciliação, “apagar” o que aconteceu e recomeçar, continuar.
Você tem uma empregada doméstica, e ela lhe rouba um dinheiro, uma joia; você a perdoaria e lhe daria uma segunda chance de continuar trabalhando em sua casa?
Um funcionário de sua empresa lhe rouba, defrauda-o, mas, arrependido, pede desculpas e suplica para continuar no trabalho, pois precisa dele para sustentar a família; você o perdoaria e o deixaria trabalhando na empresa?
Perdoar é um dos atos mais nobres e corajosos que o ser humano pode tomar (dar, conceder) a outro, e, também, um dos gestos mais difíceis.
Sabemos que perdoar – e trazer a pessoa de volta para o convívio – é tão difícil, que muitos guardam, acumulam mágoas, ressentimentos, e desenvolvem doenças psicossomáticas e (bloqueios) espirituais pela falta do perdão.
O perdão é tão importante para a vida do homem – para sua saúde física, psíquica e espiritual –, que o próprio Jesus, na oração das orações – aquela ensinada por Ele, o Pai Nosso –, pede que perdoemo-nos mutuamente. “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Superar uma ofensa é perdoar quem o ofendeu e, ainda assim, reintegrá-lo ao convívio, sem ressentimentos, sem ficar jogando ‘na cara’ o erro passado da pessoa.
O Papa João Paulo II foi até a prisão perdoar o homem que lhe desferiu um tiro. Foi noticiado que uma mãe foi até a prisão perdoar o assassino de sua filha.
O perdão é capaz de curar quem sofreu a agressão – de qualquer espécie, psicológica, física etc. – bem como o agressor.
Sabe-se de muitos casos de pessoas que, após cometerem uma falha grave, mudaram completamente de vida depois de terem recebido um perdão sincero.
Sabemos que a confiança perdida é muito difícil de ser reconquistada. Somente os fortes, que têm um coração muito bom, generoso, compassivo, que se deixam tocar pelo amor de Deus, são capazes de dar o perdão e ainda reintegrar a pessoa ao seu convívio! São muitos os exemplos: mulher traída que perdoa o esposo e continua seu casamento; amigo traído que perdoa e continua a amizade etc.
Coração compassivo, bondoso, misericordioso, pode ser pedido, pode ser adquirido do Alto. Pode-se pedir a Deus um coração misericordioso, capaz de perdoar. Deus nos concede essa força!
Sim, não é fácil perdoar, custa muito! Como disse, é realmente para os fortes. Perdoar e ainda continuar convivendo com a pessoa – dando-lhe uma segunda chance – como se nada tivesse acontecido é muito difícil.
No entanto, “o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12). Essa “violência” de que fala o Evangelho é um ato de esperança, de coragem, de bravura, de perdão.
“Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem” (Mt 5,43-44). Fazendo isso, acrescenta Jesus, “sereis os filhos de vosso Pai do céu” (Mt 5,45). No versículo 46, Jesus diz: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?”.
Se Jesus nos pede para amar até os nossos inimigos, o que dirá em relação àqueles que, de coração aberto, sincero, contrito e arrependido nos pedem um voto de confiança, uma segunda chance?
Paulo diz: “Quem está de pé, cuidado para não cair” (1Cor 10,12). Você é o agredido agora, mas pode ser o agressor amanhã. E o quanto de misericórdia e perdão gostaria de receber? Acredito que por completo!
Quem não quer mudar de vida, quem vive fazendo-lhe mal, espezinhando-o, quem deliberadamente vive praticando o mal, ainda assim, precisa ser perdoado, para que um dia possa mudar de vida. Mas não é a esse ‘malvado’ por escolha que me refiro.
Refiro-me a um erro cometido aqui ou ali, a um lapso, a uma falha praticada, aos tropeços de cada dia. Mesmo um erro programado e intencional, de que a pessoa do fundo do seu coração se arrependa e peça perdão, deve ser perdoado. Quem somos nós para julgar e condenar essa pessoa pelo o ‘resto da vida’?
Não se deve pagar mal com mal. Jesus nos ensinou a perdoar. Jesus perdoou Maria Madalena, impedindo que fosse apedrejada. Maria Madalena, ao receber o perdão de Jesus, mudou de vida e nunca mais foi a mesma. Hoje é santa da Igreja.
Quem mais precisa de ajuda, o agressor ou o agredido? Acredito que o agressor, pois esse não cumpriu os mandamentos de Deus, desviou-se, e carrega consigo uma culpa, uma dor.
Por mais que lhe custe, perdoe. É o que Jesus nos pede; é o seu ensinamento, para que sejamos chamados de filhos de Deus, e para que resgatemos vidas. Aquele que erra inconscientemente, está fazendo um pedido de socorro.
Só o amor pode perdoar tudo e qualquer coisa; não por nossas próprias forças, mas pela força do Espírito Santo de Deus.
Do seu irmão,
THIAGO ZANETTI